A pedagogia do jardim moderno de Roberto Burle Marx e a paisagem americana: práticas paisagísticas no Brasil, na Venezuela e na Costa Rica

Abstract

Roberto Burle Marx foi o precursor do paisagismo moderno no Brasil por introduzir princípios projetuais inspirados na paisagem americana. Adotando o tripé de higiene, educação e arte, que prioriza a flora autóctone e a hibridez, ele concede uma identidade tipicamente latino-americana na criação de parques e jardins de forte caráter social, desde seus primeiros projetos de espaços públicos no Recife. A hibridez dos projetos de jardins se intensificou com a coleta de plantas realizada nas viagens e no exercício profissional fora do país, a exemplo do projeto do Parque del Este em Caracas, concomitantemente ao do Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro, na década de 1950. A execução dos projetos do Parque del Este e do Aterro ocorreram em conjunto ao da Praça Ministro Salgado Filho, no Recife, e do Jardim Botânico de San Vito de Coto Brus, na Costa Rica, que estabeleceram, entre si, paralelismos compositivos e intercâmbios no repertório florístico dos jardins, contribuindo para a noção de um jardim híbrido. Foi um aprendizado que tem o jardim moderno como protagonista, uma pedagogia do jardim, e que se alinha com os princípios que visam a proteção da paisagem americana formulados pela Carta da Paisagem das Américas (2018). Esse enaltecimento que uniu a flora tropical e a cultura propostos na concepção dos jardins de Burle Marx parece ter contribuído para a constituição de princípios de salvaguarda das paisagens. Assim, este trabalho busca entender o pensamento paisagístico de Burle Marx, em projetos de grande escala e relevância, que espelham a paisagem americana, visando à proteção patrimonial. A metodologia reúne teóricos do jardim e da paisagem na análise dos projetos citados, à aplicação dos conceitos contemporâneos da Carta da Paisagem das Américas que fortalecem a noção de pedagogia do jardim concedida pelo paisagista Roberto Burle Marx.