Autoconsciência fenomenal e vivências de religiosidade na clínica psicoterápica : estudo de caso de psicólogos clínicos de Pernambuco

Abstract

Durante uma sessão de psicoterapia, psicólogos clínicos escutam frequentemente acerca de demandas religiosas de seus clientes, por vezes atentando, subjetivamente, para suas próprias crenças e atitudes com a religião, que pode diferir de seus clientes. O presente estudo trata-se de uma investigação de como se organiza o campo de experiência de psicólogos clínicos na emergência de conteúdos religiosos em seus atendimentos, bem como de que modo fenômenos religiosos influem na autoexperiência destes profissionais. Para isso, se utilizou o modelo da Autoconsciência Fenomenal de Nascimento, que define a autoconsciência como um processo dual (cognitivo-fenomenal), consoante a dimensão qualitativa e experiencial apreendidos durante o processamento psicológico. Com este foco, buscou-se levantar e descrever o campo fenomenal de autoexperiência de psicólogos, com respeito às vivências de religiosidade em psicoterapia, mapeando a dinâmica da religiosidade no self e, suas consequências cognitivas-fenomenais na experiência de psicólogos. Mediante o delineamento dos estudos de casos múltiplos e o uso de um roteiro semiestruturado de entrevista fenomenológica-cognitiva dos estados autoconscientes (EFEA), contou-se com 3 psicólogos clínicos da região metropolitana do Recife-PE, autodenominados ateu, cristã-católica, espiritualista sem religião, variando de 2, 9 e 14 anos de atuação profissional na clínica psicoterápica. O tratamento dos dados se

realizou pela Análise de Conteúdo e pela técnica da Análise Fenomenal Temático- Narrativa (AFTN), esta última, em dois ciclos, inicialmente na geração de blocos

temáticos acerca da estrutura composicional do campo cognitivo-fenomenal, com posterior reconstituição dinâmica de como se urdiu os elementos do campo da autoexperiência dos psicólogos entrevistados. O trabalho encontrou categoriais como Fala Interna, Visualizações Internas, Sentimentos, Autoesquemas de Religiosidade, Autorregulação, Consciência Sensória, Autoconsciência Fenomenal, enquanto elementos que compuseram o campo cognitivo-fenomenal. Por conseguinte, o estudo legou achados empíricos relevantes à teoria da autoconsciência fenomenal, igualmente participando de discussões contemporâneas dos encontros e desencontros da religiosidade na ciência psicológica e suas incidências na subjetividade humana.