Composição fenólica em plantas medicinais lenhosas da caatinga em relação à versatilidade das espécies e sob efeito da precipitação

Abstract

As plantas são comumente utilizadas como recursos medicinais e sua atividade biológica está ligada a compostos de metabolismo secundário, como os compostos fenólicos. Embora não sejam essenciais para o crescimento e sobrevivência das plantas, esses compostos são cruciais no desenvolvimento, adaptação ao ambiente, resistência ao estresse e atuam na defesa da planta contra herbívoros e patógenos. A importância dos compostos fenólicos é bem estabelecida devido às amplas atividades farmacológicas comprovadas, tais como antioxidante, antimicrobiana e anti-inflamatória. Na Caatinga, floresta sazonalmente seca do Brasil, a eficácia terapêutica de espécies medicinais é associada à presença de compostos fenólicos, como fenóis, taninos e flavonoides. Considerando que as espécies medicinais mais versáteis apresentam maior número de usos em sistemas médicos locais, questiona-se se essa versatilidade está relacionada à quantidade desses compostos. Paralelamente, diante da previsão de redução da precipitação no cenário de mudanças climáticas, torna-se essencial compreender como essa diminuição pode afetar a síntese de compostos fenólicos em plantas medicinais amplamente utilizadas pela população local. Para investigar a relação entre compostos fenólicos e versatilidade medicinal, amostras de cascas do fuste de vinte espécies foram coletadas no Parque Nacional do Catimbau, Pernambuco, e categorizadas quanto à versatilidade com base no índice de importância relativa (IR) em alta (IR>1) e baixa (IR<1) versatilidade, a partir de dados prévios. As análises dos extratos metanólicos envolveram o uso do reagente Folin-Ciocalteu para fenóis totais, caseína para taninos e cloreto de alumínio para flavonoides. Embora se esperasse maior concentração desses compostos nas espécies mais versáteis, não foram observadas diferenças significativas entre os grupos. As espécies Astronium urundeuva (IR = 1,94) e Anadenanthera colubrina (IR = 1,69), ambas espécies altamente versáteis, apresentaram maiores níveis de fenois totais (232,846 mg e 254,244 mg TAE/100 g MS respectivamente). No entanto, espécies menos versáteis, como Mimosa tenuiflora (IR = 0,74) e Schinopsis brasiliensis (IR = 0,62), também apresentaram níveis mais elevados de fenois (244,857 mg e 219,847 mg TAE/100 g MS respectivamente). Taninos seguiram a mesma tendência dos fenóis, enquanto os flavonoides não variaram entre os grupos. Também foi analisado o efeito da precipitação sobre a síntese de compostos fenólicos, através da coleta de cascas das espécies em áreas de baixa e alta pluviosidade. Embora se esperasse maior teor em áreas mais secas, fenóis totais e taninos foram mais elevados nas áreas com maior precipitação. Flavonoides, em geral, não apresentaram variação, embora 40% das espécies de áreas secas tenham mostrado concentrações mais altas. Dentre as dez

espécies analisadas, Cenostigma microphyllum e Senegalia piauhiensis, não apresentaram variação no conteúdo total de fenólicos e taninos entre as áreas. Os teores de flavonoides de C. microphyllum, Jatropha mutabilis e Pityrocarpa moniliformis também não variaram entre as áreas com diferentes precipitações. Assim, a versatilidade das espécies não se relaciona com a concentração de compostos fenólicos, embora esses compostos estejam associados à atividade terapêutica de espécies relevantes. Já a redução da pluviosidade afeta negativamente a produção de fenóis e taninos totais em plantas medicinais da Caatinga.