Celulose bacteriana por scoby de kombucha: caracterização e aplicação como bioembalagem

Abstract

A crescente preocupação ambiental e o desperdício de alimentos têm impulsionado o desenvolvimento de embalagens mais sustentáveis. Entre as alternativas, a celulose bacteriana tem ganhado destaque. O chá de kombucha é mediado pela simbiose de bactérias e leveduras (SCOBY), que apresenta características como resistência, elasticidade, biodegradabilidade e elevada área superficial. A adição de indicadores naturais de pH em biofilmes possibilita monitorar o frescor dos alimentos, favorecendo assim a segurança e a redução do impacto ambiental. Neste contexto, este estudo objetivou produzir e caracterizar biofilmes de celulose de kombucha em escala laboratorial e industrial, avaliando suas propriedades físico-químicas e aplicabilidade como embalagem inteligente. Foi necessário obter um biofilme industrial, de tamanho maior, visando a sua aplicação como bioembalagem. Os filmes foram purificados com solução de NaOH 0,1 mol/L à temperatura ambiente até que atingissem a coloração branca. Para avaliar o efeito de um plastificante, foi incorporado o glicerol à 25% do peso seco da celulose nas amostras. Através do processo de secagem e dos dados obtidos, foi possível determinar o percentual de umidade das amostras e a capacidade de retenção de água dos biofilmes com e sem glicerol, analisados estatisticamente pelo teste t Student. Além disso, os filmes foram caracterizados por espectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier. Para a obtenção da antocianina, utilizou-se farinha de casca e sementes de uva sob um processo de extração utilizando etanol:água (1:1). Os filmes indicadores foram aplicados em filés de tilápia como embalagem primária em temperatura ambiente. Os resultados mostraram que os filmes laboratoriais apresentaram maior capacidade de retenção de água que os industriais, embora todos exibissem altos teores de umidade (>95%). A análise por FTIR confirmou as bandas típicas da celulose e indicou que o glicerol atuou apenas como plastificante físico. A impregnação com antocianinas permitiu mudanças de cor visíveis em diferentes valores de pH, ainda que de baixa intensidade. Em testes com filés de tilápia, os filmes de kombucha tiveram desempenho similar ao PVC, mas sua opacidade e baixa coloração ainda são limitações. Conclui-se que a celulose bacteriana de kombucha é promissora para bioembalagens sustentáveis e inteligentes, mas estudos futuros devem otimizar a incorporação de pigmentos, reduzir a umidade e aumentar a transparência dos filmes.