Planejamento e enquadramento da bacia hidrográfica do Rio Ipojuca: pressupostos para gestão a partir da integração de indicadores ambientais, modelagem da qualidade da água e análise multicritério

Abstract

A poluição dos corpos hídricos constitui um dos mais relevantes desafios da gestão ambiental contemporânea, especialmente em bacias hidrográficas sujeitas a intensas pressões antrópicas. A bacia do rio Ipojuca, localizada no estado de Pernambuco, reflete esse cenário, apresentando elevados níveis de comprometimento da qualidade da água e significativa desigualdade na oferta dos serviços de saneamento. Nesse contexto, o presente trabalho teve como objetivo integrar ferramentas de diagnóstico, modelagem e apoio à decisão, a fim de subsidiar o planejamento e a gestão da qualidade hídrica da bacia do rio Ipojuca. A aplicação do Índice de Conformidade ao Enquadramento (ICE), associada à análise multitemporal do uso e ocupação do solo, demonstrou que as áreas de maior preservação ambiental mantêm condições superiores de qualidade da água, enquanto as regiões de expansão urbana e agrícola apresentaram expressiva degradação, evidenciando a complexidade de enquadramento da bacia nas classes 2 e 3. A utilização de técnicas de estatística multivariada, por meio da Análise de Componentes Principais (ACP) e de Agrupamentos, permitiu identificar três zonas de intervenção: áreas de preservação ambiental, regiões agropecuárias e um grupo crítico associado às atividades industriais (IP-49), onde se observou acentuada deficiência de oxigênio dissolvido e concentrações elevadas de matéria orgânica e nutrientes. A modelagem da qualidade da água, realizada com o QUAL-UFMG, apresentou bom desempenho para os parâmetros DBO e OD, reproduzindo adequadamente o comportamento longitudinal da qualidade hídrica. Contudo, observou-se maior complexidade na simulação de nutrientes durante o período chuvoso, atribuída ao aumento das cargas difusas provenientes do escoamento superficial. A integração da modelagem TMDL à análise multicritério possibilitou estimar as cargas máximas admissíveis por fonte poluidora e avaliar cenários de mitigação. Os resultados indicaram que apenas reduções integradas superiores a 75% nas cargas orgânicas e de nutrientes garantem conformidade acima de 70% para DBO e OD, sendo a carga orgânica máxima admissível de aproximadamente 1.500 kg de DBO por dia para manter mais de 90% da extensão do rio enquadrada na classe 2. A análise multicritério, ao integrar indicadores ambientais, operacionais e econômicos, permitiu hierarquizar os municípios segundo sua contribuição relativa à poluição hídrica, destacando São Caitano e Bezerros como prioritários para intervenções estruturantes, em razão das deficiências na infraestrutura de saneamento, do baixo desempenho operacional e da baixa qualidade dos corpos d’água locais. Portanto, conclui-se que a integração das abordagens metodológicas adotadas resultou em um diagnóstico abrangente e territorializado, capaz de subsidiar o controle da poluição, o estabelecimento de metas progressivas de enquadramento e o fortalecimento da governança hídrica, contribuindo para uma gestão mais equitativa, eficaz e sustentável dos recursos hídricos da bacia do rio Ipojuca.